Por Ana Idalina Carvalho Nunes* |
Photograph of Maurice Merleau-Ponty}} |Source=http://www.philosophical-investigations.org/Users/PerigGouanvic/ Merleau-Ponty_and_the_Post-Modern_Non-Self |Author=http://www.philosophical-investigations.org/Users/PerigGouan |
Merleau-Ponty, no quarto capítulo de
“Fenomenologia da Percepção”, fala do corpo que não
é objeto; um corpo que é no tempo, no espaço e no movimento, sem ser a
somatória de partes. É uma “síntese corporal”, ou seja, é um modo de unidade
que não está sujeito a uma lei externa ao corpo. Esta síntese corporal torna
possível a percepção daquilo que é oculto nos objetos e no próprio corpo. De acordo
com Merleau-Ponty, na página 207, “Não traduzo os “dados do tocar” para “a
linguagem da visão” ou inversamente; não reúno as partes de meu corpo uma a
uma; essa tradução e essa reunião estão feitas de uma vez por todas em mim:
elas são meu próprio corpo.” A unidade no corpo próprio quer dizer, com isso, afirmar
que o corpo é um feixe de relações de existência, de sentidos que são
ressignificados a todo momento, sendo que esta significação e também os sentidos
novos que surgem dessa atualização existencial não são resultantes da
acumulação de informações, mas de uma reconfiguração e atribuição de sentido dessas
informações.
Então, o visível e o invisível se relacionam numa
reciprocidade visceral, não numa espécie de acumulação ou soma de partes
objetivas e materiais, nem numa síntese abstrata de consciência transcendental.
A linguagem poética não nos leva às representações absorvidas de sua concretude
sensível, mas ao próprio movimento de um corpo que se faz pensamento e de um
pensamento que se faz corpo. Merleau-Ponty, na página 209, segue com seu
raciocínio, explicando que, da mesma forma como a fala não é significada só
pelas palavras, mas também pelo sotaque, tom, gestos e fisionomia, assim também
a poesia, sendo narrativa e significante, é também, essencialmente, uma
modulação da existência. “Ela se distingue do grito porque o grito utiliza
nosso corpo tal como a natureza o deu a nós, quer dizer, pobre em meios de
expressão, enquanto o poema utiliza a linguagem, e mesmo uma linguagem
particular, de forma que a modulação existencial, em lugar de dissipar-se no
instante mesmo em que se exprime, encontra no aparato poético o meio de
eternizar-se”. O poema, como qualquer obra de arte, existe como coisa e não
subsiste pra sempre à maneira de uma verdade. De acordo com Merleau-Ponty,
existe um entrelaçamento e, neste entrelaçamento não existe sentido no dualismo
entre o corpo e a consciência, intelecto e percepção, sentido e forma
expressiva. E, da mesma maneira que um poema existe como uma forma encarnada no
contexto de sua expressividade, o nosso corpo existe e se exprime na sua esfera
mais vital.
Em
outras palavras, é como se
houvesse a consciência de uma unidade de existência, em vez de uma “soma de
sensações” que proporcionaria somente o saber em fragmentos, uma soma de partes
do corpo. Na verdade, o saber que temos do nosso corpo é uma totalidade: o meu corpo
inteiro se polariza numa ação e, para que isso aconteça, é necessário que eu mova vários músculos a um
mesmo tempo, sem me preocupar em pensar qual músculo eu movi. Há um entrelaçamento das
diferentes partes do corpo.
Finalizando, Merleau-Ponty compara, na página 112, o olhar com a bengala de um cego: “Com o
olhar, dispomos de um instrumento natural comparável à bengala do cego. O olhar
obtém mais ou menos da coisas segundo a maneira pela qual ele as interroga,
pela qual ele desliza ou se apóia nelas.” E conclui que o nosso corpo não é um
objeto do pensamento, mas um “conjunto de significações já vividas que caminha
para o seu equilíbrio” .
COMO CITAR (de acordo com as regras da ABNT)
NUNES, A. I. C. O ser humano e o
conhecimento em Aristóteles. Artigos de Filosofia. Juiz de Fora, 21
jun. 2019. Disponível em: https://artigosfilosofia.blogspot.com/2019/06/a-sintese-do-corpo-proprio-uma-breve.html .
Acesso em: (data do acesso).
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